Por pouco
De repente ele acorda chorando na madrugada, arfando e com um forte chiado no peito. Faço uma nebulização e ele adormece. 3 horas depois, desperta ainda mais cansado, quase sem voz e vomitando. Pressinto uma nova crise respiratória, como a que ocorreu 1 ano atrás, e corro para o hospital. As médicas de plantão arregalam os olhos e não escondem a preocupação pela gravidade do quadro. Pulmões fechados. Sintomas de uma pré-falência respiratória.
As manobras começam. Pufs de medicamentos nas vias aéreas para abrir os brônquios a cada meia hora, cortisona na veia, máscara de oxigênio, gás hélio…e nada. 3 horas depois, ida para a emergência do Pronto Atendimento para um novo procedimento: evitar a fadiga dos pulmões com uma máscara de pressão de oxigênio. 4 períodos de sedação com a máscara no rosto, por onde entrava um jato forte de ar. Pouca coisa muda. O risco de uma nova crise ainda existe.
“Vamos para a UTI, disse a médica. Se algo acontecer, temos como responder com rapidez e segurança. Ele ainda está muito cansado.”
Gelei. Mas decretei:
“Eu sei que ele vai sair dessa. O meu amado filho tem apenas 2 aninhos e não vai nos deixar tão cedo.”
Tenho medo, muito medo. Fecho os olhos e rezo. Quando a médica diz que a situação continua grave, que talvez precise entubar, desabo e choro.
“Isso, chore, você já aguentou bastante, bote pra fora a emoção”, diz a Doutora .
Ela usava no pescoço três colares: a pomba do Espírito Santo, a Medalha milagrosa e a imagem da Nossa Senhora. Aqueles amuletos de certa forma me tranquilizaram. Aliviada, mas não menos tensa, sigo concentrada na esperança de vê-lo esperto e saudável de novo. Lembro de um ensinamento: “crer para ver” e mentalizo o meu Benjamin sorrindo, cantando e pulando. As horas se passam. Aos poucos, ele começa a dar sinais de melhora. A saturação se estabiliza e a pulsação cardíaca volta ao normal. Ele reage lentamente, até que dispensa os remédios mais fortes e evita a intubação. O rosto da médica já é outro. Mas ainda não é hora de celebrar.
“Firmeza, Rosana, ele vai sair dessa”!
Passo a noite de olho nos monitores. Quadro estável. Espera interminável. De repente, o Benja abre os olhos, retira a máscara de oxigênio da boca e revela o que ele pensa sobre o equipamento que o ajudou a sobreviver:
“Mamãe, olha a tromba do elefante”! E canta: um elefante incomoda muita gente, dois elefantes incomodam muito mais…Um misto de gargalhadas e lágrimas toma conta da gente. Hoje é sábado de Aleluia. Aperto a mão do meu marido. Gratidão e a certeza de um amor ainda maior.
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